quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Onze Temas ENEM - 02 - Tragédia no Japão


Visto do alto, era  desolador o cenário do que restou das cidades da costa nordeste do Japão atingidas pelo tsunami, com ondas de até 10 metros de altura, que se seguiu ao pior terremoto já registrado no país. Vistos do solo, os efeitos do desastre natural eram ainda mais chocantes, pois, em meio à impressionante devastação causada pela força incontrolável das águas, surgiam as tragédias pessoais.

Nação rica, que nos últimos anos - sobretudo depois do terremoto de Kobe, em 1995 - investiu pesadamente no aperfeiçoamento dos sistemas de detecção, prevenção e socorro para reduzir os danos de terremotos e maremotos, o Japão era considerado o país mais bem preparado do mundo para enfrentar catástrofes naturais. A população sabe como agir nos casos graves. Sistemas públicos de alerta são frequentemente testados e respeitados pela população. Os grandes edifícios são construídos de acordo com técnicas que lhes permitem absorver os choques causados por fortes terremotos.

Ainda assim, o tsunami arrastou, como brinquedos, automóveis, caminhões, contêineres, navios, casas e destruiu cidades inteiras. Milhares de pessoas foram sepultadas sob a lama e os escombros produzidos pelo tsunami. Centenas de milhares de pessoas perderam suas casas e foram abrigadas precariamente em escolas e outros edifícios públicos.

Em algumas regiões ficaram sem luz e o transporte público inoperante. As comunicações precárias. AS estimativas dos prejuízos materiais alcançaram algumas dezenas de bilhões de dólares.

Os sérios danos sofridos pela maior usina nuclear do país, a de Fukushima, acrescentaram aos problemas já enfrentados pelo Japão o risco de uma tragédia comparável à ocorrida em Chernobyl, na Ucrânia (então parte da União Soviética), há 25 anos. Também neste caso, as consequências já teriam sido muito piores do que as registradas até agora se técnicas na época consideradas adequadas de prevenção de desastres não tivessem sido empregadas nessa usina, inaugurada no fim da década de 1960. O governo japonês procurou proteger as populações mais sujeitas a riscos de contaminação e tranquilizar os demais cidadãos a respeito de uma catástrofe nuclear.

As sucessivas explosões nos reatores nucleares da Fukushima 1, apresentadas inicialmente como consequência inevitável do tsunâmi, aos poucos vão evidenciando uma tragédia provocada pelo descaso do governo do Japão com a vida de seu povo. Um verdadeiro crime que poderá trazer repercussões catastróficas sobre o meio ambiente e a vida de milhões de seres humanos.

Realmente nada justifica as falhas no sistema da usina nuclear japonesa. Em um país como o Japão, acostumado com terremotos e situado no chamado "cinturão de fogo do Pacífico", o sistema de segurança deveria prever e apresentar estrutura para suportar os efeitos de um tsunâmi após terremoto.


Porém, devido à falta de manutenção e às más condições dos equipamentos dos reatores, o que vimos foi uma grave falha que levou a uma desativação do sistema elétrico, pane nos geradores de emergência e a paralisação do funcionamento das bombas de resfriamento do complexo nuclear de Fukushima. A partir de então, quatro dos seis reatores do complexo experimentaram incêndios, explosões ou derretimento parcial.

Devido à gravidade do acidente, todos os que viviam em um raio de 20km da usina, cerca de 200 mil pessoas, tiveram que abandonar suas casas por ordem do governo.

Várias cidades do país sofrem uma crise de desabastecimento e as pessoas perambulam pelas ruas em busca de água e comida. Milhares vivem em abrigos improvisados e se alimentam apenas com uma pequena ração diária de arroz. A contaminação foi comprovada em alimentos e água em várias cidades, algumas distantes até 140 km do local da tragédia.

Quaisquer que sejam seus resultados, o acidente de Fukushima - que pode se repetir em outra central nuclear, em Onagawa, mais ao norte - provoca dúvidas sobre o nível de segurança das usinas nucleares e deve estimular o debate internacional sobre a necessidade de tornar mais confiáveis essas centrais, que respondem por 30% da energia elétrica consumida no Japão - em alguns países da Europa têm papel ainda mais destacado.


Para a economia japonesa, a tragédia emerge num momento em que surgiam sinais de recuperação. A destruição foi tão grande na costa nordeste do país que paralisou as operações de importantes indústrias, como montadoras de automóveis, fábricas de motores, siderúrgicas, indústria eletrônica. Essas empresas abastecem o mercado interno, mas também fornecem para outras indústrias no exterior, motivo pelo qual tendem a estender para outros países os problemas da economia japonesa.

Certamente, as consequências teriam sido muito piores se o epicentro do terremoto mais forte registrado de 9 graus na escala Richter - e que provocou o tsunami -, estivesse localizado próximo a centros urbanos de outros países, e não, como neste caso, a 130 quilômetros da cidade de Sendai, na província de Miyagi. Mas, por suas dimensões, o que mais assusta na tragédia vivida pelo Japão é o fato de ela não deixar dúvidas de que, por mais bem preparado que esteja um país e por mais bem treinada que esteja sua população, é limitada a capacidade humana para conter os efeitos dos desastres naturais.
A pronta reação do governo japonês, com a cooperação da oposição, e a comovente solidariedade internacional - com o imediato envio de pessoal especializado em busca e socorro, equipamentos e alimentos - aliviam um pouco o drama de uma população traumatizada pela extensão da tragédia desencadeada pela natureza.


Lucro acima da vida



A energia nuclear passou a ser adotada como matriz energética japonesa após o primeiro choque do petróleo nos anos de 1973-1974, quando o alto escalão governamental, associado a grandes empresas, iniciou a construção de grandes centrais nucleares no país. O sistema montado passou a ser operacionalizado pela Tepco (Tokyo Electric Power Company), uma das maiores empresas de energia do mundo.

A partir de então não foram poucas as denúncias envolvendo a empresa e que colocam também sob suspeita todo o alto escalão do governo. Em agosto de 2002, a agência japonesa de segurança nuclear concluiu que, desde os anos 1980, houve inúmeras fraudes e manipulações nas inspeções realizadas pela Tepco em Fukushima, escondendo até mesmo fissuras nas estruturas dos reatores.

Após inquérito, a Tepco admitiu tudo e desculpou-se publicamente. Um mês mais tarde, porém, vieram à tona mais oito casos de omissão de informação sobre problemas nos tubos de circulação primária da central de Fukushima. Depois dos escândalos, a empresa foi obrigada a demitir seu presidente e alguns diretores, mas continuou operando normalmente o sistema.

Em 2006, mais um caso de falsificação nos dados, desta vez sobre a temperatura da água de refrigeração de Fukushima-Daiichi, em 1985 e 1988. E, em 2007, um abalo sísmico de magnitude 6,8 provocou um incêndio noutra central nuclear, Kashiwazaki Kariwa, a maior do mundo. Embora o acidente não tenha tido grandes consequências, o governo admitiu que não tinha avaliado bem o risco antes de aprovar a construção da central, confiando em dados da própria Tepco, de 1970.

Mas o governo japonês, ao invés de dizer a verdade e punir os culpados, tem adotado uma postura de tentar minimizar o tamanho da tragédia, possivelmente omitindo ao povo a gravidade da situação. Os organismos públicos repetem que o nível de radioatividade detectado na chuva, na água corrente e em alguns alimentos não representa uma ameaça para a saúde. Contraditoriamente, o governo foi obrigado a elevar de 4 para 5 o grau de seriedade do acidente nuclear, em uma escala internacional que vai de 1 a 7.
Somente onze dias após o início das explosões o governo e técnicos japoneses anunciaram o restabelecimento da energia elétrica nos seis reatores de Fukushima 1, inclusive no reator 3, o mais danificado. Nele há combustível MOX, uma mistura de óxidos de plutônio e de urânio, procedente de produtos reciclados, cujos dejetos são considerados mais nocivos que aqueles gerados por um combustível à base de urânio. A volta da energia elétrica ao centro de controle do reator 3 possibilita condições para evitar que os vazamentos radioativos se alastrem ainda mais, com o restabelecimento do sistema de resfriamento dos reatores.
A agência de energia nuclear da ONU, porém, reclama da falta de informações sobre as reais condições do vazamento de radiação no país. Os sistemas de monitoramento da agência da ONU detectaram níveis de radiação 1.600 vezes maiores do que o normal numa área de 20 km ao redor da usina de Fukushima 1. "Nós não recebemos informações válidas, já faz algum tempo, sobre a integridade dos conteúdos do reator 1. Estamos preocupados por não saber o status [atualizado]", disse Graham Andres, um oficial de alta patente da AIEA. O órgão disse ainda que o Japão precisa fornecer mais informações sobre os reatores 1, 3 e 4.
Diante da falta de informações, acreditamos que levará ainda algum tempo para que o mundo possa conhecer todas as consequências e a real gravidade da situação, posto que a radiação nuclear é um inimigo invisível e que pode ter consequências a curto, médio e longo prazo. Possivelmente os efeitos da radiação poderão perdurar por décadas.
De qualquer forma, a atual tragédia já é, sem dúvida, uma prova de que a adoção e manutenção da energia nuclear por parte de empresas e governos capitalistas podem representar um grande perigo para os povos e para o meio ambiente. Demonstra também que, sob o sistema capitalista, a corrupção, os lucros dos banqueiros e multinacionais, os pagamentos dos juros das dívidas públicas são prioridade em detrimento da vida e segurança do povo. Caso contrário, o governo japonês teria investido os recursos necessários para prevenir essa tragédia.
Pelo contrário, o que aconteceu foi que, poucas horas após o tremor, o Banco do Japão (BOJ, o banco central do país) anunciou a formação de uma equipe para administração do desastre, comandada por seu presidente, Masaaki Shirakawa. A principal preocupação do BOJ era "conter as preocupações do mercado" anunciando um pacote de gastos para dar liquidez ao mercado interbancário.
Foi com essa preocupação de atender aos interesses do mercado financeiro que o governo elaborou o novo orçamento a ser aplicado a partir de abril. De acordo com este, enquanto serão destinados 350 bilhões de ienes para gastos com desastres naturais, será aplicado mais que o dobro, 810 bilhões de ienes, em gastos com "medidas econômicas de emergência" (leia-se: salvar os capitalistas e o mercado financeiro da crise).
Wanderson Pinheiro, São Paulo
Lupi diz que Brasil vai 'ganhar mais do que perder' com tragédia no Japão
Ministro lamentou desastre e disse que
'não deseja a tragédia de ninguém'.

Segundo ele, haverá maior demanda por cimento,
minério e alimentos.
Alexandro Martello
G1 Economia

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, lamentou nesta terça-feira (15) a tragédia no Japão, país que foi fortemente atingido por um terremoto e um tsunami na semana passada, mas, ao ser questionado pelos jornalistas sobre o impacto na economia brasileira, avaliou que, em termos de trocas comerciais, o Brasil vai "ganhar mais do que perder".

"O Brasil vai acabar, apesar de não desejarmos tragédia para ninguém, até ganhando. Acho que vai ter mais encomenda do que desistência", declarou ele a jornalistas.

Segundo a Polícia Nacional japonesa, o terremoto e o tsunami que atingiram o Japão na última sexta-feira (11) deixaram até as 12h desta terça-feira, 3.373 mortos e 6.746 desaparecidos. Segundo o balanço, há ainda 1.897 feridos. o balanço anterior falava em 2.414.
Além dos desaparecidos, desabrigados e feridos pelo terremoto e tsunami, o Japão ainda enfrenta uma crise nuclear, com explosões nos reatores do complexo de Fukushima. Dados japoneses indicam que os índices de radioatividade caíram drasticamente na usina nuclear mais danificada pelo terremoto da semana passada, disse a agência nuclear da ONU nesta terça-feira.
Segundo Lupi, pode ser que, em um primeiro momento após a tragédia, ocorram mais desistências do que encomendas do país asiático.
"Pode ser até que no começo tenha uma encomenda menor. Mesmo assim demora [para ter impacto nas exportações brasileiras]. Não é de um dia para o outro. As encomendas são feitas com muita antecedência. É o mesmo prazo que vai ter para que se recupere a economia japonesa", disse ele.
Na avaliação do ministro do Trabalho, a crise no Japão vai ter o efeito de aumentar exportações brasileiras de alguns produtos para o país.
"Vai ter setores de energia, pois quase 25% de energia é nuclear. Vai diminuir a produção industrial. Por outro lado, vai ter que reconstruir parte do país. Continuamos produzindo minério, cimento e alimentos", declarou ele.

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