Projeto ainda passará pela CCJ em caráter terminativo. O senador Jorge Viana (PT-AC) se absteve de votar. Para ele, retornar ao horário antigo é um retrocesso e leva o Acre ao atraso
BRASÍLIA – Três comissões do Senado aprovaram nesta terça-feira projeto de lei que retoma o antigo fuso horário do Acre de duas horas a menos em relação a Brasília. A decisão ocorre cinco meses depois da maioria da população do Estado escolher mudar o horário atual do Acre, que é de uma hora a menos em relação ao Distrito Federal. O projeto ainda precisa passar pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) em caráter terminativo, sem a necessidade de ser votado em plenário, antes de entrar em vigor. A polêmica começou depois que, em 2008, foi sancionada lei que adiantou os relógios para uma hora a menos em relação ao DF. A proposição tem decisão terminativa naquela comissão. A reunião está marcada para a próxima semana. A votação suplementar é exigida quando um projeto é transformado num substitutivo, isto é, totalmente modificado pelo relator, ele precisa passar por uma segunda votação, que é o turno suplementar. Essa segunda votação ocorre em todas as instâncias em que o projeto precisa ser votado: nas comissões e no Plenário. Por sua vez, a decisão terminativa é aquela tomada por uma comissão, com valor de uma decisão do Senado. Quando tramita terminativamente, o projeto não vai a plenário: dependendo do tipo de matéria e do resultado da votação, ele é enviado diretamente à Câmara dos Deputados, encaminhado à sanção, promulgado ou arquivado. Ele somente será votado pelo plenário do Senado se recurso com esse objetivo, assinado por pelo menos nove senadores, for apresentado à Mesa. Após a votação do parecer da comissão, o prazo para a interposição de recurso para a apreciação da matéria no plenário do Senado é de cinco dias úteis. Diante da insatisfação da população com a mudança, foi realizado em outubro referendo para consultar a população do Estado sobre a mudança. No total, 56,9% dos eleitores do Estado escolheram retornar ao horário original. O único senador que se absteve da votação foi Jorge Viana (PT-AC), irmão do autor da lei que mudou o fuso no Estado – o atual governador Tião Viana (PT). O senador afirma que houve "manipulação política" no referendo, o que se reflete numa "vitória apertada" da retomada do antigo horário. Contrário à mudança, Viana disse que retomar o horário anterior é um "retrocesso" que leva o Acre ao "atraso". "Com o horário de verão, o Acre fica com três horas de diferença em relação a Brasília. Não concordo com isso, é um atraso. Os colegas senadores fizeram valer a vontade do povo, mas houve manipulação eleitoreira nesse processo", disse Viana. Na defesa da mudança, senadores afirmaram que a vontade do povo acriano deve ser respeitada. "Por mais que alguns queiram dar uma conotação política, temos que respeitar a vontade do povo do Acre", disse o senador Sérgio Petecão (PMN-AC). O senador Aníbal Diniz (PT-AC) prometeu recolher assinaturas de outros parlamentares para discutir a possibilidade de um fuso horário único no Brasil inteiro. "Fazemos valer a vontade do povo do Acre, mas vou reunir assinaturas para discutir essa possibilidade", afirmou. Impasse
A polêmica sobre o fuso horário se arrasta há pelo menos quatro meses no Senado, depois que alguns parlamentares questionaram o fato de um referendo modificar uma lei que já está em vigor. Com o impasse jurídico, o senador Pedro Taques (PDT-MT) apresentou novo projeto para rediscutir o tema. O texto do senador foi aprovado hoje pelas Comissões de Assuntos Econômicos, Constituição e Justiça e Relações Exteriores e Defesa Nacional. Ainda será necessária nova análise da CCJ sobre o projeto. O resultado do referendo foi homologado em 14 de dezembro pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). À época do referendo, emissoras de televisão se posicionaram contra o atraso em uma hora, que as obrigaria a ajustar a grade de programação exclusivamente para o Estado para se adequar à classificação de horário por faixa etária. GABRIELA GUERREIRO |
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